-É possível que hoje não seja o dia adequado para levar a cabo as medições, senhor. Rompeu o silêncio o rapaz sem deixar de mirar para o aparelho.
O velho não se imutou e seguiu sentado naquela cadeira que estava situada a carão do cristal que os separava daquelas três pessoas. A cadeira, a julgar polo seu aspeto, devia já ser velha quando nasceu o velho.
O rapaz erguia a mirada sem mover a cabeça e dirigia-a cara o velho procurando um aceno de resposta, mais não seria obtido nessa manhã. A saber o que pensava o moço, eu acho que na sua cabeça o mais recorrente a diário era tratar de imaginar o que se passava pola cabeça do velho, de modo que naquela manhã não tinha porque ser distinto.
O velho, do qual não darei nome por respeito à sua família, semelhava levar arredor de três dias sem fazer a barba e os mesmo dias, ou mais, sem mudar a camisa. Das calças também não direi nada, porque como todas as que vestia sempre eram quase iguais, não che saberia dizer se as desse dia estavam limpas, mais a julgar polo que depois dixo a polícia no informe, penso que também estariam sujas.
O velho levava arredor de duas horas sem se imutar, com a olhada cravada no cristal, mas seguramente sem prestar atenção ao que estava ao outro lado, esse dia não creio que lhe presta-se atenção, não. De súbito pujo-se em pé sem apartar-se da cadeira nem apartar a olhada de onde havia horas que não a movia, acho que doutro mundo. Virou a cabeça cara o moço e cravou a olhada nele. Os passos que deu seguiram a linha imaginária que ficava entre os olhos e o rapaz. O jovem era consciente de todo o que passava, mas por medo não foi capaz de centrar a sua olhada no que fazia o velho, senão que dissimulava mirando cara o aparelho.
O velho ficou parado diante da mesa em que estava o aparelho das medições e o imberbe. Sacou a navalha com a que pelava as castanhas e num aceno de reflexos, força e decisão espetou-lha na gorja. Não passaram nem dous segundos e já todo tinha cor vermelha: a roupa, a mesa, o aparelho, a boca do rapaz… Os seus olhos pareciam querer dizer o que a sua boca não podia dizer agora nem digera nunca. O corpo ficava preparado para começar a apodrecer, já não conhecia vida.
O velho, quem levava toda a manhã sem falar, dixo em voz baixa: - Uma ânsia a um lado.
A navalha, que seguia na sua mão, tinha o fio limpo como se fosse inocente de todos os possíveis cargos. O velho mirou cara ela fixamente e deixou-na cair no sobrado. Ele caminhou uma distância de cinco metros até a outra ponta do quarto, onde havia um móvel de madeira de castanho. Abriu a porta do meio e sacou uma caixinha de bolachas e sem apartar a vista dela caminhou até a cadeira que estava ao lado do cristal, mas desta vez não olhou para o que havia detrás Dele. Sentou e pujo a caixa nas suas velhas pernas, abriu-na e colheu um pequeno bote que agarrou com a mão esquerda, entretanto com a direita pousou a caixa aberta no chão. Centrou a olhada no bote enquanto as suas cansas mãos tratavam de abri-lo. Quando o abriu dirigiu-no cara a lâmpada, quedando este entre o foco de luz e os olhos verdes, para contemplar a quantidade de líquido que havia. Quando o baixou colocou-no à altura da boca e após uma espera tremendamente breve, engoliu-no.
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ResponderEliminarMinha nai querida... Estou tam surpreendida que nom sei bem que dizer. Gostei, de verdade que gostei. Deberias explorar mais esta nova faceta tua :)
ResponderEliminarIvám! Sobrado!
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