18/05/13

.mais uma


Permaneceu parada até o final, na sala lilás do fundo que pintaram junt@s noutro tempo. Lembrou o cheiro a pintura nova no seu nariz, e os dedos dele a brincarem entre risos. Sem presas. Lembrou até a sua voz. E as palavras amáveis a escorregar na língua, fundida com a sua. Lembrou... e foi por isso que deixou de ser. Já não.

Ele odiava pintar, já lho tinha dito. Manchar as mãos dá nojo. Odiava incluso aquela sala. Pintou lilás porque ela quijo ou, como lhe fijo crer: foi lilás bem pola tua culpa.
E foi por isso que lilás tornou cor preta.... 
[Por ela?]

16/05/13


Tenho um coraçom frio,
                                     escuro
                                               e resvaladiço.

Pode parecer que o agarrache
mas de repente
e
     s
          c
              o
                  r
                       r
                           e
                               g
                                    a
                                           -se

Por     entre      os      dedos
                                                         e marcha,
                   nom se sabe onde.

Tenho um coraçom,
disso nom há dúvida…
mas está tam agochado que,
                                                           às vezes,
nom vale a pena procurá-lo.

                      Ti procurache-lo,
e ainda nom sabemos até que ponto
                        o atopache.

15/05/13


Figeches-me feliz desde a ausência.
Ti, que nom sabes quem és e muito menos quem som eu.
Ti, que nom tens nem ideia de que che estou a escrever.

                        Ti, figeches-me sorrir.
         Mereces-te uns pseudo-versos de regalo.
                     Pola benvinda. Pola ocasiom.

Instantaneamente corpóreo. Ausente o demais tempo.

Ti, efémer@ (des)conhecid@ de sorriso contagioso.
                                   
 Obrigada por formar parte dum dos teus instantes.

12/05/13


é como uma porno sem gemidos
na mão direita                 o-a-pa-ra-to


                   Provocas-me as palavras




Graças à casualidade
                                de termo-nos atopado.

Vejo-te no caos
                               da existência
sendo o único válido
                                do baleiro.

09/05/13


Toca escolher caminho e
... se nom tivesse isto... entre
...estas...   duas

[cousas da vida]

nem a mim se me ocorria já sentarmos neste banco da distância
a tantas horas

eu, o medo,
pois,

com muita(s) cara(s).

O bom de todo é que já estamos aqui
neste zulo que chamei um dia casa
e podemos (re)correr-nos a(s) mentiras
umhaaumha,
e os problemas desta fame do meu mundo que nom passa.

07/05/13




tenhoasmãoscheiasdeletrasescritasparalembraroqu
enãoquero

oçapse

Que curiosos os sentimentos
que aparecem de repente.
                                                            Com duas cervejas de mais.

Que curioso, estranho e confuso.
Descobrir-te sentindo sem sentido.
E voltar à origem de todo
                                    o que sempre foi 
                                    nada.

Voltar.
Quem sabe se regressar ao ponto
sem conexom
                        com nenhum outro.
Voltar talvez
a viver o desvivido.

Voltar ali,  de onde nunca marchaches,
                     onde sempre estás,
                     onde nom te (re)conheces.

Voltar a tu
           em tu
           por tu
                              
                                 Soidade.

06/05/13


Figem para ti o revolto mais “extremo”
dos dias todos que passamos a pensar no (re)muínho e na casa que esquecimos ventilar
connosco dentro,
cheias de roupa, ao nosso lado, logo de sacar-nos até a pele de
prenda
em
prenda.
Apreendendo-nos os corpos e os silêncios, também nossos e, os osos, também,
orgásmicos.

Bem sei...
mas foi orgásmic@ perdid@ que lutei na contra
da conta-atrás-das-horas,

e que me sabe mal chamar-te assim
            e taaal e quaaal...
mas que nem sei mui bem teu nome porque nom me importo. Porque som bem cruel. Porque sei que vás marchar de aqui e taaal e quaal e abuurr... e já nos vemos outro dia.

E sei
Bem sei
que foi orgásmica também a despedida.

05/05/13


O meu problema, nom é que nom goste das despedidas.
O meu problema,
é que nom me sei despedir.
Por mais que o tento,
por mais que convenço a esta cabezinha
e a esta pedra preta que tenho no peito
de que articulem essas 5 letras,
nom me fam caso…
e rim-se de mim.                           
                                                                  [Por ilusa, por inocente, por imbecil]

Medições

-É possível que hoje não seja o dia adequado para levar a cabo as medições, senhor. Rompeu o silêncio o rapaz sem deixar de mirar para o aparelho.


O velho não se imutou e seguiu sentado naquela cadeira que estava situada a carão do cristal que os separava daquelas três pessoas. A cadeira, a julgar polo seu aspeto, devia já ser velha quando nasceu o velho.


O rapaz erguia a mirada sem mover a cabeça e dirigia-a cara o velho procurando um aceno de resposta, mais não seria obtido nessa manhã. A saber o que pensava o moço, eu acho que na sua cabeça o mais recorrente a diário era tratar de imaginar o que se passava pola cabeça do velho, de modo que naquela manhã não tinha porque ser distinto.


O velho, do qual não darei nome por respeito à sua família, semelhava levar arredor de três dias sem fazer a barba e os mesmo dias, ou mais, sem mudar a camisa. Das calças também não direi nada, porque como todas as que vestia sempre eram quase iguais, não che saberia dizer se as desse dia estavam limpas, mais a julgar polo que depois dixo a polícia no informe, penso que também estariam sujas.


O velho levava arredor de duas horas sem se imutar, com a olhada cravada no cristal, mas seguramente sem prestar atenção ao que estava ao outro lado, esse dia não creio que lhe presta-se atenção, não. De súbito pujo-se em pé sem apartar-se da cadeira nem apartar a olhada de onde havia horas que não a movia, acho que doutro mundo. Virou a cabeça cara o moço e cravou a olhada nele. Os passos que deu seguiram a linha imaginária que ficava entre os olhos e o rapaz. O jovem era consciente de todo o que passava, mas por medo não foi capaz de centrar a sua olhada no que fazia o velho, senão que dissimulava mirando cara o aparelho.


O velho ficou parado diante da mesa em que estava o aparelho das medições e o imberbe. Sacou a navalha com a que pelava as castanhas e num aceno de reflexos, força e decisão espetou-lha na gorja. Não passaram nem dous segundos e já todo tinha cor vermelha: a roupa, a mesa, o aparelho, a boca do rapaz… Os seus olhos pareciam querer dizer o que a sua boca não podia dizer agora nem digera nunca. O corpo ficava preparado para começar a apodrecer, já não conhecia vida.


O velho, quem levava toda a manhã sem falar, dixo em voz baixa: - Uma ânsia a um lado.


A navalha, que seguia na sua mão, tinha o fio limpo como se fosse inocente de todos os possíveis cargos. O velho mirou cara ela fixamente e deixou-na cair no sobrado. Ele caminhou uma distância de cinco metros até a outra ponta do quarto, onde havia um móvel de madeira de castanho. Abriu a porta do meio e sacou uma caixinha de bolachas e sem apartar a vista dela caminhou até a cadeira que estava ao lado do cristal, mas desta vez não olhou para o que havia detrás Dele. Sentou e pujo a caixa nas suas velhas pernas, abriu-na e colheu um pequeno bote que agarrou com a mão esquerda, entretanto com a direita pousou a caixa aberta no chão. Centrou a olhada no bote enquanto as suas cansas mãos tratavam de abri-lo. Quando o abriu dirigiu-no cara a lâmpada, quedando este entre o foco de luz e os olhos verdes, para contemplar a quantidade de líquido que havia. Quando o baixou colocou-no à altura da boca e após uma espera tremendamente breve, engoliu-no.


04/05/13


Colei a mao na terra e peguei na corda,
ficou ali para sempre,
para @s que vinherem.

Foi
como plantar um tojo na auto-estrada
ali, no meio...
e romper-lhe a cara toda àquele senhor que sai na tele.

O sentimento de caída livre num baleiro que nom queres encher.

A sensaçom de como                        
                                                             pouco                a                  pouco

te precipitas no abismo da soidade,
e ninguém está abaixo para soster-te,              ninguém será quem de salvar-te.

               Resignaçom.                               Corrosom interior.

O eterno retorno ao teu lugar de descanso...
                                                                        ao mesmo tempo que te (des)integras.